quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

POEMA DE LUCIANO PASSOS

FAZENDA CAMPO LIMPO

A minha infância escorreu em espumas

nas águas turvas do Rio da Areia

subiu no topo do velho tamarineiro

buscou o gado, cavalgando em pêlo.

A minha infância caçou passarinhos

andou descalça e abriu caminhos

que levavam sempre à porta amiga

da branca e majestosa casa antiga.

A minha infância enfrentou bois bravos

ouviu estórias de tristes lobisomens

bebeu na fonte, escalou os montes

pisou em terras onde pisaram escravos.

A minha infância viu o verde fumo

secando ao sol no limpo dos terreiros

colheu laranjas amarelo ouro

que pontilhavam em laranjais inteiros.

A minha infância nadou na represa

flertou o poente e namorou a aurora

sentiu no rosto o vento das manhãs

e temeu sempre o dia de ir embora

A minha infância adormeceu na rede

embalada pelo canto de cigarras em agonia

sonhou azul em seu mundo verde

e acordou junto com um novo dia.

A minha infância despertou adulta

deixou o campo, caminhou no asfalto

usou gravata, agenda e sapato

e hoje brinca entre as molduras de um retrato.

LUCIANO PASSOS

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